Nesta semana, Mato Grosso do Sul registrou dois casos suspeitos de fungo negro, doença que ficou conhecida após grande número de infecções na Índia. No entanto, a mucormicose já existe há muitos anos e não é transmitida de pessoa para pessoa.
O primeiro caso suspeito no Estado foi notificado em um paciente Covid-19 de Campo Grande – internado, ele não resistiu e faleceu na quarta-feira (2) aos 71 anos. O idoso sofria de Diabetes Mellitus e Hipertensão Arterial Sistêmica. Ele “apresentou suspeita de mucormicose no olho esquerdo com equimose palpebral intensa e lesão necrótica superior poupando a borda, apresentando quemose conjuntival sanguinolenta e úlcera corneana” em 28 de maio.
O sengundo caso suspeito de MS foi notificado em Corumbá. Internado em UTI (Unidade de Terapia Intensiva) por causa da Covid-19, o homem de 50 anos tem hipertensão e sofre de obesidade. Ele apresentou na quarta-feira (2) necrose ocular bilateral.
Para explicar mais sobre a doença, o Jornal Midiamax conversou com o médico infectologista Hilton Luís Alves Filho. Ele destacou que a “primeira coisa que temos que deixar bem claro é que os grupos de fungos que causam a mucormicose, são fungos que vivem na natureza, estão presentes no solo, material orgânico em decomposição, tronco de árvores”.
Explicou que uma pessoa pode ser infectada por esse fungo acidentalmente. “O que acontece é que o fungo negro, a murcomicose, é uma manifestação de uma doença fungica oportunista. Ou seja, ele se aproveita do sistema imunológico frágil, deficiente dessa pessoa, principalmente pessoas transplantadas, diabéticas com descontrole da doença”, disse.
Com a pandemia, muitas pessoas foram infectadas por coronavírus e tiveram o sistema imunológico afetado. “Os pacientes com Covid-19, que usam medicações como corticoides em quantidades altas, por tempos prolongados, e associadas a comorbidades, evoluem com uma doença grave ocasionada por esse fungo”, explicou.
Como me prevenir do fungo negro?
O especialista destacou que o fungo não é transmitido de pessoa para pessoa. Além disso, “é muito provável que a pessoa já apresente o fungo no organismo ou esteja contaminado em algum momento”. O que acontece é que com um sistema de defesa baixo, ela “evolui com essa doença oportunista”.
Sobre os cuidados, Hilton afirmou que não existe uma forma de se proteger contra o fungo, pois ele faz parte da natureza. “Não existe assim um cuidado imediato para prevenir a ocorrência desse fungo, então em geral as medidas são de higiene geral. Não tem nada específico para se fazer, porque esse fungo está presente na natureza”.
No entanto, a melhor forma de ficar a salvo da doença é se prevenir da Covid-19. Em tempos de pandemia, praticar todas as recomendações da OMS (Organização Mundial da Saúde) e SES (Secretaria de Estado de Saúde) é essencial para se manter longe do coronavírus.
“O mais importante para prevenção é controlar as doenças pré existentes e controlar a infecção da Covid-19. Porque geralmente esse fungo vai acometer pessoas com estado grave da Covid-19, já internadas em terapia intensiva”, ressaltou o especialista.
Então, para evitar a Covid-19 e uma possível evolução do fungo preto, fique em casa sempre que possível. Quando for sair, use máscara que cubra o nariz e boca, mantenha distanciamento de outras pessoas, higienize as mãos e não participe de aglomerações. Lembrando que as medidas valem para quem já foi vacinado contra a Covid-19.
Quais os sintomas do fungo negro?
De acordo com Hilton, os sintomas em geral são vários. Pois a “mucormicose tem várias infecções, desde a mais comum que é a infecção de pele, restrita a pele, até infecções graves do cérebro e sistema nervoso central”.
A forma que mais tem acontecido é a que atinge o nariz, seios paranasais, olhos e que, posteriormente, pode evoluir para infecção do cérebro. “Essa é a forma que temos observado que tem evoluído em pacientes Covid-19”, explicou.
Assim, o especialista informa que no começo do agravamento do fungo preto, pacientes podem até conversar normalmente. “Mas vão perceber uma secreção escurecida pelo nariz, uma dor nasal, inchaço dos olhos, queda da pálpebra, avermelhamento dessa região ocular e nasal, surgimento de feridas pelo nariz e no olho”.
E nos hospitais, como fica a prevenção?
Nas instalações hospitalares, os cuidados são redobrados. “Em geral são procedimentos que são realizados de rotina, que evitam a proliferação de microorganismos em geral”.
Então, o especialista afirmou que dentro de todos os hospitais existe uma comissão de controle de infecção hospitalar. Essa comissão “cuida da qualidade da água, do controle do ar, qualidade dos instrumentais cirúrgicos, evitando e fazendo prevenção de patógenos intra hospitalar”.
No entanto, ele destacou novamente que o fungo é da natureza e pode estar em todos os lugares, inclusive nos organismos humanos. “A gente sabe que os fungos, os protozoários, eles estão nas pessoas muito antes deles adoecerem”.
Por fim, ele lembrou que o perigo realmente está em quem desenvolve outras doenças, como Covid-19, ou estão com situação irregular de comorbidades, como diabetes. “Com a doença grave esse fungo age como um oportunista, gerando doenças graves nessas pessoas”, finalizou.
Midiamax