Aos 62 anos, felicidade de Francisca foi escrever sua primeira carta de Natal

Cartinha e alunos do projeto Barcos das Letras.

“Aprender a escrever no Facebook é o que eu mais quero hoje”, diz dona Francisca Barbosa, de 62 anos, uma mulher batalhadora na pesca, que só teve oportunidade de aprender a escrever neste ano. E ela termina 2017 com uma alegria danada, depois de escrever com palavras doces sua primeira cartinha.

“Eu precisava muito agradecer. Foi a minha maior alegria ver que eu pude mandar uma carta a alguém”, conta Francisca, que enviou um recado a pós-doutora em linguística e presidente do Ipedi (Instituto de Pesquisa da Diversidade Intercultural), Denise Silva. A simples realização veio com o projeto Barco das Letras, que oferece alfabetização aos ribeirinhos da região do Pantanal, no Município de Miranda.

Tocando a vida conforme o vai e vem das águas dos rios, dona Francisca escreveu: “Querida Denise, venho por meio desta cartinha como simples gesto de carinho lhe agradecer por ter nos dado a oportunidade de aprender”.

Nascida em Miranda, filha entre 10 irmãos e de família humilde, dona Francisca teve que deixar muita coisa para depois. Ir à escola foi uma delas. Até este ano, ela não sabia escrever e ler era muito difícil por conta da rotina. “Sempre trabalhei muito desde pequena. A vida era difícil então não sobrava tempo para estudar”, explica.

Franscica cuidava dos irmãos e trabalhava na roça, depois passou a pescar, ofício que exerce até hoje. Levantava às 3h da manhã e passava o dia no rio, o que nem sempre, era promissor. “As vezes voltava sem nada, isso é muito triste”.

Por isso. quando o projeto bateu à porta, ela agarrou a chance de aprender e crescer ainda mais. “Eu me sentia fora do mundo porque escrever é tudo na nossa vida”

Depois das primeiras cartinhas, Francisca agora quer evoluir na escrita para usar as redes sociais. “Quero usar meu Facebook, mandar Whatsapp no celular, coisa que eu ainda não consigo fazer com tanta facilidade e acabo deixando de conversar com meus amigos”, conta.

Mãe de 5 filhos e 8 netos, ela também quer manter o contato com a família. “Essa juventude vive no celular e é o único meio de conversar todo dia com os meus netos, então preciso aprender”.

O projeto chegou até Francisca pela coordenada e historiadora Janete Corrêa, que ministra as aulas do Barco das Letras. O programa é realizado pelo Ipedi e tem patrocínio da organização Brazil Foundation.

A iniciativa nasceu da demanda apresentada pelos próprios pescadores, que enfrentam problemas no cotidiano por não saberem ler e nem escrever. Muitas vezes é difícil para negociar o pescado, preencher documentos da rotina da pesca e até tirar fotos de celular para provar que alguns casos não são “histórias de pescador”.

“Ajuda em tudo e a gente fica muito mais confiante quando sabe o que está recebendo ou assinando por aí”, afirma Francisca. Campo grande news

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