História de Cassilândia: A vida de Joaquim Pernambuco, o saudoso prefeito dos pobres

Joaquim Tenório Sobrinho e a inseparável esposa Maria

O Cassilândia Urgente irá publicar a História de Cassilândia em capítulos, com base no livro de Corino Rodrigues de Alvarenga.

Hoje estamos começando por Joaquim Tenório Sobrinho, o Joaquim Pernambuco, por seus valores inestimáveis em favor de Cassilândia e, sobretudo, do povo mais humilde desta terra.

 

A SAGA DE PERNAMBUCO, O PREFEITO DOS POBRES

Joaquim Tenório Sobrinho, o Pernambuco, mais conhecido como o prefeito dos pobres, nasceu na cidade de Custódia, Estado do Pernambuco, sob o sol inclemente no agreste nordestino, no dia 23 de dezembro de 1922.

Pernambuco, segundo as palavras do poeta repentista Carolino Leobas, é o “Herói nordestino/Que se jogou no mundo/Para cumprir seu destino/Pois a sorte da pessoa/Já se traz de pequenino.” Esse poeta, em simples palavra, soube muito traçar a trajetória de Joaquim Pernambuco, que foi dono de uma grande história.

Filho de um lavrador chamado Gabriel Ferreira e de dona Maria Tenória, foi crescendo e aprendendo que no mundo é preciso lutar muito, que na vida é preciso determinação para vencer as barreiras, é preciso ter vergonha na cara. No dia 20 de agosto de 1944, casou com Maria Francisca de Oliveira e com ela teve os filhos Luiz e Maria Isalve.

Em busca de melhores condições de vida, deixou o seu rincão e rumou-se para o “Sul”, a bordo de um pau de arara, durante 11 dias, chegando finalmente à capital paulista, pegando um trem para Pompeia, onde ficou por seis anos, trabalhando numa fazenda de propriedade de Osvaldo José Paroni. Depois, passou uns tempos em Cravinhos, também em São Paulo, e lá nasceram os filhos Maria de Lourdes, Cícera e Francisco, num total de cinco herdeiros.

Homem corajoso e determinado, Pernambuco mandou a cara no mundo e veio parar na região de Cassilândia no dia 12 de abril de 1955 para trabalhar inicialmente como carroceiro, isto é, no ofício de fazer frete com uso de carroça. Um certo dia, dona Walkíria Romão o viu, cheio de amigos para ouvi-lo, não se conteve e comentou para si própria:

– Este é um grande homem. Pelo seu carisma de conquistar amizades, ele vai conquistar todos os cassilandenses. Ele é muito especial. Sabe ser simples e humilde. E realmente eu estava certo. Pernambuco foi uma pessoa extraordinária. Nasceu assim e assim morreu.

Como carroceiro, trabalhou um ano e meio. Naquela época começou a ganhar dinheiro. Num passe de mágica, estava com 18 carroças bem equipadas e novas. Daí passou a fazer “gambiras”, ou seja, negócios na base da troca, compra e venda de mercadorias diversas. Eram terrenos, carroças, materiais, apetrechos, utensílios domésticos, chácaras, fazendas. Começou a chover dinheiro em sua hora e ali acabaram os tempos de miséria e de sofrimento pelo mundo.

Havia dois tipos de transporte naquela época: a carroça era para carregar mercadorias e a charrete era para carregar pessoas como fazem os táxis nos dias de hoje. Na compra e venda de carroças e charretes, ele ganhou um bom dinheiro. Ia a São Paulo, fazia as compras e vendia tudo aqui em Cassilândia. Uma fórmula simples que funcionou por algum tempo até esgotar esse nicho de mercado.

Como lembra o ditado, “Deus dá a farinha e o Diabo carrega o saco”, as amizades multiplicaram, afinal os amigos não faltam na hora de gastar o dinheiro. E, assim, vivia Pernambuco, ora rico, ora mais pobre, mas sempre rodeado de muita gente.

E foi assim que recebeu o convite para entrar na política, elegendo-se vereador no pleito de 3 de outubro de 1958, assumindo o cargo no dia 31 de janeiro de 1959, ao lado de mais quatro vereadores, e, tendo sido o mais votado, foi aclamado presidente da Câmara de Vereadores de Cassilândia.

Na eleição seguinte, elegeu-se prefeito, assumindo o cargo em janeiro de 1963, tendo como vice-prefeito Manoel Nogueira da Cunha. Nesse mesmo ano empenhou-se ao máximo para trazer o Banco da Lavoura, iniciou a construção da cadeia em 1964, inaugurada em 1965; montou a usina do salto do Aporé, utilizando as aparelhagens adquiridas pelo primeiro prefeito eleito, Sebastião Leal. A verba ele conseguiu junto ao governador Fernando Correa da Costa. A usina foi inaugurada em julho de 1963. Naquela época construiu várias pontes de madeira para melhorar o tráfego de veículos. Concluiu a construção do prédio da Prefeitura, do Forum, construiu dois grupos escolares, comprou uma moto niveladora e caminhão, com parte do dinheiro do bolso, já que a Prefeitura não tinha condições financeiras.

Naquela época, ia ao Paraná, Minas Gerais e Goiás para buscar gente com a finalidade de morar em Cassilândia, já que a mão de obra estava escassa por aqui, pois visava o rápido progresso do município. Para incentivar a vinda das pessoas, ele doava o terreno e até ajudava na construção da casa. Assim, ficou conhecido como o prefeito dos pobres e passou a ser cada vez mais procurado pelos carentes.

No ano de 1968, Pernambuco e o amigo Expedito Baiano, apelido de Expedito Alves de Lima, viajavam a bordo de um avião particular, de propriedade do senhor Manoel Valente, tendo como piloto Miguel Capistânia, rumo a São Paulo, mais precisamente Ribeirão Preto, lá cuidaram de negócios. No retorno a Cassilândia, na decolagem do avião, ocorreu o imprevisto, o avião ganhou uma boa altura e de repente caiu na pista do aeroporto, chocando-se violentamente no solo e causando ferimentos gravíssimos nos ocupantes. Expedito Baiano quebrou uma perna e um braço, tendo que ficar internado durante 38 dias. Mas o pior ocorreu com Pernambuco, que teve sua face toda esfacelada, precisando de um transplante, afinal teve o nariz decepado pelas ferragens da aeronave. Ficou durante três meses internado e sofreu de súbito uma notável transformação na fisionomia, ficando com o nariz achatado e a voz anasalada, características que carregou até a morte.

E Pernambuco permaneceu bem com os pobres de Cassilândia, sendo muito humano na hora de suas necessidades e chegando até a pagar salários dos servidores com dinheiro do próprio bolso quando a verba da Prefeitura não dava para suprir as despesas municipais.

A porta de sua residência estava sempre aberta para o povo, não se percebia nem tramela, trinco ou chave, a exemplo de seu coração que era do tamanho de Cassilândia.

Foi convidado novamente para se candidatar a prefeito pelos amigos e acabou sendo eleito em 15 de novembro de 1969 como vice-prefeito de Ib Fabres de Queiroz, juntos construindo várias obras no município.

Novamente voltou ao paço municipal e desta vez como prefeito no dia 15 de novembro de 1972, declarado prefeito no dia 31 de janeiro de 1973. Com apenas cinco meses de gestão pôs em funcionamento a usina hidrelétrica do Salto, que havia sido montada pelo ex-gestor Ib Fabres de Queiroz; concluiu a construção de oito grupos escolares na zona urbana; completou prédios escolares que haviam sido iniciados pelo seu antecessor, bem como deixou o prédio do grupo escolar da Vila Bom Jesus quase pronto, já em fase de acabamento; trouxe o interurbano telefônico nacional e internacional, que foi inaugurado pelo padre John Pace, ao unir Brasil e Itália, via DDI, fato solene ocorrido na Praça São José, muito aplaudido pelos presentes, com o uso de um orelhão improvisado.

Ao lado do senhor Ib Fabres de Queiroz, foi o prefeito que mais efetuou abertura de estradas no município, e, sobretudo, foi uma das pessoas que mais fizeram pelos cassilandenses, sobretudo em assistência social. Um pau-de-arara de outrora se transformou no mais humano e amigo prefeito que Cassilândia já viu.

Deixamos que o poeta repentista Carolino Leobas termine a história de Joaquim Tenório Sobrinho, o imortal Pernambuco de todos nós.

 

Estava em 12 de abril

Há muitos anos atrás,

Quando entrei em Cassilândia

Para ficar e não sair mais.

 

Enxada? Foice? Facão?

Machado? Carga pesada?

Nunca pensei duas vezes:

Topava logo a parada.

 

Era pobre, sem recursos

Não vou mentir pra quê?

Mas tinha um forte desejo:

Trabalhar para vencer.

 

Lidei com burro e carroça,

Fiz gambiras – não sei quantas!

Matei Bichos, vendi couros

De onça, cateto e anta.

 

Fotos extraídas do Museu da Imagem de Cassilândia / Facebook.

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