Filho revelou o “ódio” do pai que agrediu colega negra por “olhos castanhos”

Pai que agrediu colega de filho deixa DEPCA com menino do colo (Foto: Paulo Francis/Arquivo)

Durante escuta especial na DEPCA (Delegacia Especializada de Proteção à Criança e ao Adolescente), trabalho feito por psicóloga e supervisionado por delegada, garotinho que foi “arrancado’ de perto de colega negra, no pátio de escola, revelou o gosto do pai por “olhos azuis’ e o ódio por “olhos castanhos’. Para as advogadas Lione Balta e Flávia Heloisa Anselmo, que representam a menina de 4 anos e a família dela, a declaração deixa claro que a pequena cliente foi vítima de racismo.

“Preconceito existente e enraizado, cujo qual, a criança tem plena consciência apesar de sua pouca idade, mas que a polícia não’, afirmam as advogadas.

O homem foi indiciado por vias de fato – agressão que não provoca lesões -, que nem crime é, mas uma contravenção penal que prevê punição com prisão de 15 dias a 3 meses. Enquanto racismo é crime inafiançável e imprescritível.

De acordo com a defesa da vítima, quando perguntado sobre o ocorrido, a criança contou que a colega só o abraçou uma única vez, na segunda-feira (11) pela manhã, quando aconteceu o episódio envolvendo o pai dele.

O meu pai não gosta que me pega, é porque meu pai só gosta de quem tem olho azul, ele odeia quem é de olho castanho’, também declarou o menino.

Para as advogados, este ódio, citado pelo garoto, ficou evidente na atitude raivosa do pai, que empurrou a coleguinha do filho e apontou o dedo para ela, afinal de contas o menino não havia demonstrado resistência ao abraço da colega, embora o pedreiro tenha dito à polícia que o garoto “não gosta que o toquem’.

“Não bastasse a agressão em si, o ódio de que o filho do acusado se refere, transparece e fica evidenciado pelo vídeo que foi amplamente compartilhado, no qual se vê uma frágil garotinha de 4 anos sendo empurrada, tropeçando em sua mochila, e ficando acuada de medo no canto da parede’, constatam Lione e Flávia.

A família, através da defesa, insiste que o homem seja investigado por racismo. “Apesar de toda a investigação e do depoimento chocante realizado pelo próprio filho do acusado, é estarrecedor que a polícia não veja o cristalino preconceito no caso, e que, se não fosse a comoção popular e seus pedidos de providências, o caso pudesse ser apenas mais um dia comum em um país já tão desigual. A família e sua assessoria lamentam profundamente o enquadramento do caso e a postura adotada pela polícia especializada, e informa que tomará todas as medidas judiciais necessárias’.

Cena chocante – O episódio aconteceu na manhã de segunda-feira (11), na fila da entrada dos alunos da Escola Municipal Professora Iracema de Souza Mendonça, situada no Bairro Universitário, em Campo Grande. O pedreiro empurrou a diretora e invadiu o pátio do colégio para “resgatar’ o filho.

O homem de 32 anos alega que “ficou nervoso’ quando viu a outra criança abraçando o filho, porque o menino “não gosta que toquem nele’. Também confessou ter orientado antes ao filho “dar porrada’ na menina caso ela se aproximasse novamente. Mas, alegou estar arrependido.

Na terça-feira (12), a reportagem falou com o pai da menina, um homem de 42 anos. Ele explicou que a filha é carinhosa e gosta de abraçar as pessoas. “É extremamente alegre, gosta de demonstrar o carinho dela através do contato. Abraça, beija, principalmente quando tem outras crianças envolvidas’, descreveu.

A criança ainda tenta entender o que aconteceu, mas depois do ocorrido e com medo de outras investidas do acusado, os pais da menina decidiram trocá-la de escola. Bata News

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