Quem vê cara não conhece a transexual poderosa que é Talita aos 27 anos

Aos 27 anos, Talita é uma mulher feliz e realizada.

Talita tem 27 anos e foge aos clichês transexuais. Formou-se em Administração e Moda, atua como cabeleireira, maquiadora e nunca escondeu o que sentia e consegue ser, plenamente, feliz. Mas ela já perdeu as contas de quantas vezes ouviu: Você nem parece que é (transexual).

O comentário surge toda vez que alguém descobre que Talita é uma trans sem nunca ter passado por qualquer procedimento de mudança no corpo. Não usa hormônios, não fez cirurgia no rosto para conseguir traços mais femininos.”Única coisa que fiz até hoje foi colocar prótese nos seios e deixar o cabelo crescer, nem maquiagem eu uso, gosto apenas de colocar um cílio postiço quando vou sair”, afirma.

Mas ela percebe uma reação diferente, na maioria da vezes, das clientes. “Minha cadeira no salão é um divã, sempre surge um bate-papo sobre relacionamento e as vezes elas perguntam sobre casamento e filhos, é nessa hora que eu falo sobre a transexualidade. Muitas ficam surpresas e dizem que nem imaginam”

Trabalha como maquiadora e cabeleireira em um salão da cidade.
Em alguns casos, Talita também evita explicações. “Para muita gente o assunto é novo e difícil de compreender. Quando é uma senhora, por exemplo, eu nem entro no assunto. Elas perguntam sobre a vida pessoal, mas acabo não falando. Talvez para evitar que elas fiquem confusas”.

Com traços femininos dos pés a cabeça, Talita nunca precisou se submeter a um longo processo de descoberta, aceitação e adequação para se tornar a mulher que sempre sentiu ser.

“Desde de muito nova precisei fazer um acompanhamento médico porque minha taxa hormonal tem mais progesterona, porque desenvolvi ainda mais os traços femininos. Sempre fui uma criança andrógena e muita parecida com uma menina. Tinha gente que até achava que eu era lésbica”, conta.

A descoberta sobre o futuro ocorreu já na adolescência, aos 13 anos. “Me olhava no espelho e não me reconhecia. Muitas vezes, na igreja, perguntava a Deus o porquê de eu estar sentido aquilo. Eu era um menino até então, quando conheci no Carnaval uma transexual e naquele momento pensei: é isso que eu sou”.

Talita sempre foi dedicada à família e tinha os pais como melhores amigos. Antes de qualquer interferência, ela decidiu contar a verdade para eles. “Minha família é a minha base e minha confiança. Quando comecei a sentir que era diferente, minha única vontade foi contar pra elas”.

E agradece por sempre ter tido o apoio da família.
Mas a revelação que pode ser devastadora em uma família conservadora, foi surpreendente na casa de Talita. “Cheguei para ele e disse: não me reconheço. Na época meu pai tinha um restaurante em Corumbá, era um homem muito tradicional e eu tinha muito medo da reprovação dele, mas foi bem diferente”.

A notícia despertou surpresa no pai, que no primeiro momento ficou confuso sobre a condição de Talita, mas demonstrou apoio e decidiu dialogar sobre as primeiras mudanças. “Ele só me pediu paciência quanto ao nome de registro. Para ele, era difícil trocar por Talita da noite para o dia, mas isso pra mim nunca foi importante, se ele me chama pelo nome de registro ou pelo nome feminino, eu o respeito. Afinal, o que era mais importante, ele fez”.

O pai de Talita parecia entender o que acontecia ainda na adolescência. “Logo que eu me assumi, também decidi fazer uma cirurgia de redução de mama. Por conta da taxa hormonal diferente, eu já tinha seios iguais o das meninas e isso sempre gerou brincadeiras na escola, o que hoje é chamado de bullyng. Mas quando eu ia entrar na sala de cirurgia, meu pai me abraçou e disse: Você tem certeza? Porque um dia você pode querer tê-los novamente”, diz Talita, ao reproduzir as palavras que até hoje emocionam.

Com o desejo de se formar e também atender ao pedido do pai, o processo de transição definitivo só surgiu aos 19 anos. “Passei no vestibular com 16 anos, me formei em duas faculdades ao mesmo tempo e quando entreguei os diplomas para o meu pai, foi definitivo. Assumi a personalidade da Talita e vivo assim até hoje”.

Mas apesar da aprovação familiar, Talita tinha medo que o pai assustasse quando a visse com seios e totalmente mulher. “Vivia fugindo, evitando que ele me visse, até que um dia não deu mais. Com ajuda da minha madrasta, que intermediava todos os assuntos, a gente acabou se encontrado e a primeira coisa que ele me disse foi para nunca mais sumir, porque ele me respeitava e me amava de qualquer forma”.

Assim como na família, Talita conheceu pouco do preconceito na sociedade. Mas precisou se impor quando o assunto é relacionamento. “Por eu não aparentar ser transexual logo de cara, muitas vezes o homem quer te levar em ‘banho maria’ ou até esconder sua identidade para as pessoas. Mas nunca me sujeitei a isso porque sou uma mulher e também preciso respeitar minha felicidade. E muitas vezes, uma transexual, por medo de ficar sozinha, acaba fazendo o que o homem quer, mas eu não faço”.

Hoje, Talita é solteira, trabalha todos os dias em uma salão de beleza, dá cursos de maquiagem e penteado e, considera-se uma mulher feliz. “Dei todos os passos na minha vida com muita honestidade ao que sentia e sempre vai ser assim. Pra muitas pessoas esse processo nem sempre é fácil, mas a gente tem que lutar. E agradeço muito a minha família, porque a mulher que me tornei hoje é graças ao respeito e educação que eles me deram. E é o que toda família deveria fazer”.

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