Brasil supera as 120.000 mortes por covid-19

Voluntário desinfeta as vielas de uma favela do Rio de Janeiro, em 18 de abril de 2020

Voluntário desinfeta as vielas de uma favela do Rio de Janeiro, em 18 de abril de 2020

Pouco mais de seis meses depois de registrar o primeiro caso do novo coronavírus, o Brasil superou neste sábado (29) o limiar sombrio de 120.000 mortes pela covid-19, sem vez a luz no fim do túnel.

O país, com quase 212 milhões de habitantes, registrou 120.262 mortes e 3.846.153 casos de covid-19, informou o Ministério da Saúde em sua atualização diária.

As cifras da pandemia no Brasil só são superadas pelas dos Estados Unidos, de longe o país mais castigado pelo novo coronavírus, com mais de 182.000 mortes.

Diferentemente de Europa e Ásia, onde o vírus se manifestou com força e em seguida diminuiu, no Brasil avança a um ritmo lento e devastador, afirma Christovam Barcellos, pesquisador da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz).

“Isso é inédito no mundo. Desde o começo da pandemia o Brasil mostrou uma curva de casos e de óbitos diferente de outros países, muito lenta”, declarou à AFP.

“Agora está estabilizada, em torno de 1.000 óbitos e 40.000 casos por dia. O Brasil não passou o pico”, acrescentou.

– “Falta de coordenação” –

O país confirmou o primeiro caso do novo coronavírus em 26 de fevereiro, um empresário de São Paulo que voltou de uma viagem à Itália, e registrou sua primeira morte em 16 de março.

A pandemia logo se tornou uma questão política no país de 26 estados, além do distrito federal, com amplas competências em temas de saúde.

O presidente Jair Bolsonaro criticou a “histeria” sobre o vírus e atacou governadores e prefeitos que adotaram medidas de isolamento social em estados e municípios, argumentando que o dano econômico seria pior do que a própria doença.

Indígena kayapó participa de bloqueio de uma rodovia nos arredores de Novo Progresso, no Pará, em protesto contra a falta de apoio do governo no combate à covid-19 e ao desmatamento ilegal, em 17 de agosto de 2020

ndígena kayapó participa de bloqueio de uma rodovia nos arredores de Novo Progresso, no Pará, em protesto contra a falta de apoio do governo no combate à covid-19 e ao desmatamento ilegal, em 17 de agosto de 2020

© CARL DE SOUZA Indígena kayapó participa de bloqueio de uma rodovia nos arredores de Novo Progresso, no Pará, em protesto contra a falta de apoio do governo no combate à covid-19 e ao desmatamento ilegal, em 17 de agosto de 2020

Ele também incentivou o uso da hidroxicloroquina como solução de tratamento para a doença, apesar de uma série de estudos mostrarem que o medicamento é ineficaz contra o novo coronavírus.

O balanço divulgado, neste sábado, pelo Ministério da Saúde indicou que mais de 120 mil pessoas morreram de Covid-19 no Brasil, sendo 758 óbitos nas últimas 24 horas. Desde o início da pandemia 3.846.153 foram infectadas pelo novo coronavírus em todo o país.© Florian PLAUCHEUR O balanço divulgado, neste sábado, pelo Ministério da Saúde indicou que mais de 120 mil pessoas morreram de Covid-19 no Brasil, sendo 758 óbitos nas últimas 24 horas. Desde o início da pandemia 3.846.153 foram infectadas pelo novo coronavírus em todo o país.

Quando foi diagnosticado com o vírus em julho, Bolsonaro inclusive tomou o que chamou de um remédio da “direita”.

Especialistas coincidem em que a falta de uma mensagem coerente de seus líderes foi a responsável pelo fracasso do país em “achatar a curva”.

“É terrível. Há uma falta de coordenação, essa tem sido uma característica infelizmente do Brasil. O governo federal deixou aos estados toda a administração da crise”, ressaltou Barcellos.

O vírus se propagou do primeiro grupo demográfico que infectou, viajantes ricos que voltavam do exterior, para os grupos mais vulneráveis e para o interior do país.

Moradores das favelas superpopulosas em cidades como São Paulo e Rio de Janeiro têm sido particularmente afetados, assim como os povos indígenas da floresta amazônica, que têm um histórico de vulnerabilidade a doenças externas.

Enquanto isso, neste ano a maior economia latino-americana caminha para uma recessão recorde como consequência da pandemia.

O Ministério da Economia estima que o PIB encolheu 8% a 10% no segundo trimestre de 2020, e os economistas projetam uma retração de mais de 5% para o ano todo.

Mas Bolsonaro, paradoxalmente, conseguiu manter e até aumentar sua popularidade.

O presidente, que assumiu o cargo em janeiro de 2019, recebeu o melhor índice de aprovação para seu mandato no início deste mês, alcançando os 37%, cinco pontos a mais do que em junho, segundo pesquisa Datafolha.

E o ex-capitão do exército tem um índice de aprovação de 42% entre os beneficiários do auxílio emergencial de R$ 600, pago mensalmente desde abril, como forma de amenizar a crise econômica.

A pesquisa revela ainda que 47% dos brasileiros eximem Bolsonaro de qualquer responsabilidade pelo número de mortes provocadas pela covid-19, e que apenas 11% o veem como o “principal culpado” pela crise.

Outras pesquisas recentes também revelam que o chamado “Trump dos Trópicos” tem uma popularidade crescente e grandes chances de ser reeleito em 2022.

“Bolsonaro é um fenômeno. Realmente tem uma força política própria que se precisa considerar”, comentou o analista político Michael Mohallem, da Fundação Getúlio Vargas.

Ainda assim, “é muito chocante ver alguém que tem a postura que ele teve” na gestão da pandemia, acrescentou.

“Não é só negacionismo. Nem o Trump avança aquela linha da dignidade, na hora de falar de mortes ele é muito respeitoso. Bolsonaro cruzou essa linha muitas vezes (…) Acho que o Bolsonaro ainda tem de pagar um preço”, afirmou.

MS Noticias

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