Cassilândia/Crônica da Vida Real: Durante velório, filhos discutem partilha de bens

Já não se faz mais velório como antigamente…

Este fato é real. E aconteceu em Cassilândia.

A reportagem do Cassilândia Urgente, num trabalho pioneiro na cidade, tem feito a cobertura dos óbitos, mostrado a foto do falecido e publicado a sua história. Falecido ou falecida, é claro.

Numa dessas coberturas jornalísticas, aconteceu algo de impressionar. Tão logo a empresa funerária colocou o caixão na residência da família, começou o rebuliço verbal entre dois filhos do pai de saudosa memória, esticado e ereto ali naquele caixão.

Um dos filhos, sem-cerimônia, foi falando para a sua irmã:

– A primeira coisa que temos que fazer é vender o sítio. Eu não tenho tempo de cuidar do sítio deixado pelo velho, a mamãe está doente e eu trabalho aqui na cidade. O sítio fica muito longe. Temos que vendê-lo.

E a irmã, tocando no rosto do pai, concordou:

-E as vacas também. Sem sítio, não tem sentido ficar com as vacas. Vamos colocá-las onde?

-Ah sim! Vamos vender as vacas também.

-Aquela casa da Vila Pernambuco não nos serve para nada. Precisamos vendê-la também.

-Sim. A casa da Vila Pernambuco. Nem me lembrava daquele casebre.

Aí o irmão, na frente dos convidados e sem chorar o pai falecido, fez a pergunta:

-Será que tudo dá pelo menos um R$ 1 milhão? Se der, são R$ 500 mil para mim e R$ 500 mil para você. Nada mal, né?!

Aí a irmã discordou:

-Não! Tem a parte da mamãe. Esqueceu?

E ele retrucou:

-Fala baixo, menina! Mamãe está muito doente e logo embarcará também. Vamos dividir tudo entre nós dois.

E ela respondeu, fazendo “sim” com a cabeça:

-Nada mal. Nada mal.

O irmão se lembrou de um detalhe:

-E tem os investimentos no banco e os terrenos que ele comprou no loteamento novo…

A moça, pouco compadecida, disse:

-Vamos deixar isso para amanhã depois do enterro. Agora vamos velar o pobre paizinho…

E o irmão, com uma indisfarçável felicidade por dentro, assentiu:

-Vamos velar o paizinho… Pobre paizinho…

E eu aqui, na minha arcaica compreensão humana, também entro na repetição banal:

“Pobre paizinho… pobre paizinho…”

CORINO DE ALVARENGA

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