Acostumada a levantar o próprio barraco, Maria construiu ponto de ônibus sozinha

Dona Maria tem a engenharia na veia. Autoditada na construção, a senhoria já construiu duas moradias de madeira. (Foto: Paulo Francis)

Dona Maria tem a engenharia na veia. Autoditada na construção, a senhoria já construiu duas moradias de madeira. (Foto: Paulo Francis)

Acostumada a levantar o próprio barraco, Maria construiu ponto de ônibus sozinha
Ela já viveu em invasão do Noroeste, hoje está no Vivendas do Parque e, apesar da pobreza, comprou material e tinta para garantir um ponto digno ao bairro

Como anda sua disposição? A de dona Maria de Lourdes vai muito bem aos 78 anos. Com uma força de causar inveja a muito “novinho” por aí, ela acaba de construir sozinha a cobertura de um ponto de ônibus do bairro Vivendas Parque. A obra durou cerca de uma semana e, neste domingo (29), ela ainda providenciou a pintura do banco, para que a chuva não danifique a madeira. Com a “engenharia na veia”, dona Maria diz que não tem segredo para a vitalidade, mas que sua sabedoria vem da criação que teve na fazenda.

O valor para comprar quatro caibros, pregos e algumas telhas saiu do próprio bolso. E não pense que Dona Maria tem dinheiro no banco ou anda sobrando em casa o suficiente para ela pensar no bem do bairro. A vida tem sido bem dura, levantando os próprios barracos pela periferia da cidade.

Ela conta que, quando morou em uma área invadida no Noroeste, restos de construção eram mais fáceis de encontrar, o problema é que para buscar ficava mais caro que comprar em um depósito da região.

Mas como nada é moleza na vida de Maria, a primeira remessa de material foi furtada. Sem desanimar, ela comprou tudo novamente e iniciou os trabalhos imediatamente. “Eles descarregaram na esquina para ficar mais perto do ponto, mas alguém levou tudo. Tive comprar de novo, mas aí já comecei a fazer”.

Antes, mal tinha um toco para sinalizar que ali havia um ponto de ônibus. Muito caprichosa, ela carpiu ao redor, porque o terreno estava tomado pelo mato, antes de iniciar a obra. Primeiro colocou a estrutura em pé e subiu a primeira telha. “Depois que eu coloquei a primeira telha, vi que eu dava conta de finalizar e pronto, terminei”, revela.

A ação chamou a atenção de Luciana Coelho, de 28 anos. A moradora do bairro passou pelo ponto nos primeiros dias e viu que dona Maria estava aprontando algo. “Eu passava em frente e me perguntava, o que será que ela está aprontando? Eu queria que todos vissem a garra dela em fazer sozinha essa cobertura”, pontua.

A casa de dona Maria fica próxima ao ponto de ônibus, especificamente dentro da comunidade Vivendas. Ela hoje mora em outra área invadida. Há seis meses está ali, convivendo com a insegurança do despejo. Mas mesmo assim, é dona de uma das estruturas mais coloridas do local. A mesa da varanda e todos os vasinhos de planta levam a cor rosa.

Depois de construir sozinha a morada no Noroeste, um dos filhos tentou ajudá-la na construção do novo barraco, porém, segundo Maria, o auxílio não resolveu muito. “Ele até veio, mas tive que orientar em tudo, meus filhos não entendem de amarrações. Eu entendo e sei fazer porque fui criada na fazenda tendo que construir na raça”, diz.

Neste domingo, foi o dia de pintar a estrutura do ponto. Segundo Maria, a madeira fica mais protegida e não poderia deixar a chuva estragar seu trabalho. Com muita tranquilidade, a senhorinha levou um rolo e um balde de tinta para finalizar. “Agora pode chover, está tudo pintadinho. Tomara que vândalos não estraguem, fiz com muito amor para todos nós usarmos”.

Sonho – A vontade de trabalhar não para por aí. Dona Maria revela que seu sonho é ter um carrinho para vender cachorro-quente ou doces. “Não somos autorizados a vender na comunidade, então queria um carrinho que eu pudesse vender algo pelo bairro”, explica.

Se alguém se interessou em ajudar dona Maria de Lourdes é só ir até a comunidade, que todos a conhecem.

Campo Grande News

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